Precisamos admitir uma coisa: boa parte dos alunos de Pilates têm problemas de coluna. Isso pode ser uma escoliose, dor lombar ou qualquer outra patologia. Por isso, devemos aprender como trabalhar com essa região e utilizar a biomecânica da coluna vertebral a nosso favor.
Biomecânica da coluna vertebral
Na coluna, possuímos as cifoses e as lordoses, curvaturas alternadas para funções distintas. As cifoses têm a função de proteção dos nossos principais órgãos. Elas servem como pontos fixos para que os músculos realizem os movimentos. As lordoses estão presentes para distribuir de forma considerável a forca de compressão axial (forca gravitacional).
Existem dois tipos de colunas: a do tipo funcional dinâmica e a do tipo funcional estática.
Coluna do tipo funcional estática é definida como uma coluna com suas curvaturas menos marcadas, ou seja, retificada. É um tipo muito comum no Brasil
” Esse tipo de coluna tem seu equilíbrio muito precário, este individuo está muito mais susceptível a quedas, pois quanto menor a mobilidade, menor a estabilidade, e menor equilíbrio, como resultante mais quedas. ”
(Rachel W. Pata, Katrina Senhor, Jamie Lamb)
A coluna do tipo funcional dinâmica possui curvaturas mais móveis, acentuadas e com maior mobilidade. Portanto, são mais susceptíveis a lesões. Logo temos aqui um dilema: nossa coluna deve ser:
- Estável o suficiente para suportar as forças gravitacionais;
- Móvel o suficiente para ser flexível.
Se essas curvaturas forem equilibradas a coluna terá maior energia potencial produz-se e menos chances de lesões. Portanto, em nossas aulas de Pilates devemos observar primeiramente que tipo de coluna tem o nosso paciente. Se ele for mais flexível, temos que priorizar o trabalho de estabilidade. Eu disse priorizar, mas também temos que não perder sua flexibilidade, pois estamos diante de uma coluna do tipo funcional dinâmica.
Agora se estivermos diante de um paciente com sua coluna do tipo funcional estática, devemos priorizar a mobilidade.
Estabilidade da Coluna Vertebral
Panjabi foi engenheiro e o primeiro a falar sobre a estabilidade. Ele disse que a instabilidade e o aumento da dor lombar se são pela perda do padrão de movimento funcional. Joseph buscava incansavelmente esse movimento normal com sua observação obstinada e apaixonada pelos animais e crianças.
Panjabi diz que a estabilização é feita por três subsistemas:
- Coluna vertebral;
- Músculos da coluna vertebral;
- Unidade de controle neural.
Ou seja, precisamos de uma coluna flexível e de músculos fortes. Sobre o papel do sistema de controle neuromuscular ainda pouco sabemos. Quanto maior for a oscilação do corpo, maior probabilidade de aparecimento da dor lombar, indicando um sistema de controle neuromuscular menos eficiente, com uma menor capacidade de proporcionar a estabilidade espinhal necessária.
Paul Hodges
A partir dos estudos de Panjabi, Paul Hodges propõe que a estratégia mais eficiente para a estabilização da coluna vertebral é frequentemente o movimento. Isso é diferente da rigidez que muitos impõem. A perturbação é menor quando a preparação para o movimento envolve um ajustamento da posição da coluna vertebral. Assim a estabilidade não é somente o impedimento do movimento. Na maioria das vezes envolve pequenos movimentos sutis feitos no momento certo e na quantidade certa. Pessoas com dor lombar crônica, por exemplo tem seus movimentos comprometidos.
Hodges diz ainda que, a optimal stability não se dá sobre a geração máxima de contração, mas sim sobre contrair os músculos certos, na quantidade certa, e no momento certo. Confirma ainda que, as contrações musculares que estabilizam a coluna vertebral têm um alto custo. Elas restringem a respiração, o movimento, exercem maior pressão sobre o assoalho pélvico e compressão sobre a coluna vertebral.
Uma característica importante da estabilização no núcleo é que a atividade muscular deve preceder a quaisquer forças que possam perturbar a coluna vertebral. Por isso o timing, antecipação e atividade muscular feedforward é o mais importante para Hodges.
Como sabemos o transverso é o principal músculo de estabilização segundo Paul Hodges. Logo vamos conhecer mais profundamente esse importante músculo.
Transverso
Como vimos na figura o Transverso é cortado pela frente pela potente linha alba e por trás pela fáscia tóraco lombar. Logo acredito em sua interdependência e ainda na existência de dois músculos transversos. Podemos dividi-lo em Transverso direito e o Transverso esquerdo. Portanto, discordo do comando de levar o umbigo para a coluna, pois isso só seria capaz com a colaboração dos retos abdominais. O Transverso não realiza esse movimento.
Além disso, há um engano no Brasil sobre a contração do Transverso. Olhemos bem a figura do Transverso, suas linhas de tração, origem e inserção, analisemos agora uma contração concêntrica dos Transversos.
Todos concordam comigo que as linhas inferiores do Transverso o tracionam para dentro e para baixo, alargando a parte inferior do abdômen como as figuras que criamos de cinturão, espartilho e outras?
Mais um fator anatômico que devemos levar em consideração na contração do Transverso o impedindo de que esse músculo realize sua contração no sentido interno somente. Ele traz sua contração para a crista ilíaca de forma ascendente, formando assim uma cintura fininha na altura de suas fibras médias que são horizontais, mas não nas fibras inferiores e superiores.
Logo o comando a ser dado é de aplanamento do abdômen com a formação de uma cintura fininha. Não devemos empurrar as vísceras para baixo para não fadigarmos o assoalho pélvico. Sim toda a linha osteopática fala em fadiga do assoalho pélvico e não fraqueza, em alguns casos.
Conceito da Estabilidade segundo a Biomecânica
Como vimos, o Pilates não é uma receita pronta. Não tem comandos prontos, cada aluno deve ser analisado e bem avaliado para traçarmos nossa estratégia de atendimento.
Vamos analisar agora o conceito da estabilidade segundo a física mecânica. Logo adianto que diante todas as pesquisas apresentadas Joseph Pilates, foi muito feliz e genial ao criar seu método. O que fazemos até hoje proposto por Pilates é a estabilização segmentar ou o fortalecimento do Powerhouse. Fazemos isso acreditando que quanto mais forte for o Power House mais estável estará a coluna vertebral gerando menos lesões. Pela física esse conceito não está errado. Mas ele se encontra mal-entendido, incompleto. Confunde-se estabilidade com rigidez, ignorando-se a mobilidade.
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Pela física, estabilidade e a energia potencial de um corpo, energia esta que pode ser armazenada nesse corpo. Essa energia pode ser transformada em energia cinética (de movimento), se esse corpo estiver equilibrado. Essa energia potencial gravitacional, ou gerada pela força solo pode ser transformada pelos nossos tendões e músculos em energia cinética que gerara estabilidade para nosso corpo em movimento.
Estabilidade é igual rigidez vezes mobilidade. Logo se fortalecermos muito o Powe House, teremos muita rigidez e menos mobilidade. Assim, perdemos a energia potencial elástica gerada por nossos músculos. Ao contrário, se formos muito móveis também teremos um problema. Perdemos estabilidade e também não conseguimos gerar energia potencial elástica.
Portanto, um corpo em equilíbrio deve conseguir utilizar de forma econômica, tanto na rigidez quanto na mobilidade, uma fonte de energia cinética para o movimento sem riscos de lesões.
Então, baseada nos conceitos físicos, posso afirmar que o Método Pilates é um exercício completo. Ele trabalha, tanto na mobilidade, quanto na rigidez (estabilidade). As pesquisas recentes muito agregaram ao conceito estabilidade, alguns ajustes já são aceitos pelo Pilates Clássico. E as pesquisas seguem sugerindo somente um ajuste de menos força para a estabilidade segmentar para não gerar rigidez, aumento da pressão intra cavitária desequilibrando, assim, todo o sistema.
Diferença da respiração para pacientes hipercifóticos e retificados
Segundo Joseph, a respiração solicitada durante os exercícios de Contrologia deve ser profunda. A intenção é oxigenar todos os átomos de seu corpo. Aqui eu acrescento a respiração tridimensional e com comandos diferentes para hipercifóticos e retificados.
Joseph acreditava que uma coluna deveria ser ereta para ser saudável. Hoje sabemos que as curvaturas de nosso eixo central devem ser respeitadas. O nosso comando respiratório deve ser um para os pacientes retificados, para que eles levem o ar inalado para as costas, e para os cifóticos outro, de que ele tente levar o ar inalado para o peito.
Joseph dava muita ênfase para o ato respiratório. Dizia ser o primeiro realizado ao nascermos e o ultimo também quando morremos. Dizia ainda, que muitas pessoas passavam uma vida inteira sem respirar direito. E insistia numa respiração profunda que expandisse o peito, e que depois na expiração fosse retirado do pulmão toda última molécula de gás carbônico, como se estivéssemos espremendo o pulmão como se fosse uma toalha.
Hoje a respiração continua sendo muito enfatizada na prática do Pilates, porem de forma mais sutil e respeitando o ritmo, a fluência e a sequência dos exercícios.
Posicionamento da Coluna
Joseph acreditava e buscava por uma coluna ereta. Os praticantes do Pilates Original ainda assim o trabalham. À luz de novas pesquisas sabemos que a retroversão (Imprint) pode aumentar em inúmeras vezes a pressão sobre os discos intervertebrais. Logo, os instrutores do Pilates do Clássico ao Contemporâneo, já há algum tempo buscam a coluna neutra.
Com o tempo porém, percebemos que não faz muito sentido prescrevermos exercícios onde a pelve está neutra, mas as colunas dorsal e cervical em sofrimento. Durante minhas aulas sempre deixo bem claro aos meus alunos que começaremos a realizar os exercícios na pelve neutra ideal do meu paciente. Isso seria o neutro ideal para o conforto do paciente. Aos poucos tentamos trazê-lo a cada nova aula para o que seja o neutro ideal para o meu paciente ditado pelo meu olhar profissional. Evoluímos realizamos exercícios para atingir tal objetivo.
Esse objetivo é formado pela cervical lordótica neutra, a dorsal cifótica neutra e a lombar lordótica neutra. Para nosso paciente deitado em decúbito dorsal isso significa ter: a base do crânio, a coluna dorsal, as costelas flutuantes e a base do sacro no solo.
A mecânica dos Aparelhos propostos por Joseph
Precisamos entender a genialidade de Joseph Pilates. Primeiro esqueçamos essa ideia antiga que temos de que ele criou suas principais quatro camas aleatoriamente. Cada um dos aparelhos criados por Joseph Pilates são um verdadeiro emaranhado físico, cheios de vetores de forças, forças elásticas, roldanas e nesse texto vou tentar explicar no contexto físico, cada uma dessas suas maquinas.
Faz-se importante que conheçamos com quais forças estamos lidando em cada uma das camas para que possamos otimizar cada exercício de nossa aula, tirando dele o máximo da capacidade física que cada instrumento pode nos oferecer.
Podemos falar, em um próximo artigo, apenas da Biomecânica dos Aparelhos de Pilates. Você gostaria de ver esse artigo? Comente aqui embaixo para eu saber!