Na nossa tentativa de ver o corpo na globalidade podemos esquecer de alguns músculos específicos importantes para uma patologia. Um desses casos é o músculo iliopsoas, que pode estar entre um dos influenciadores de dor lombar e outras patologias da coluna.
Além disso, os desequilíbrios dessa musculatura são capazes de alterar a biomecânica de diversos movimentos.
Para que você consiga compreender como o músculo iliopsoas pode estar entre os motivos de dor lombar preparei algumas dicas e esclarecimentos. Aqui aprenderemos sobre a anatomia e biomecânica da musculatura para compreender melhor suas compensações.
Por último, entenderemos como sua relação com as cadeias musculares o torna um possível causador de dor na região lombar.
Anatomia do músculo iliopsoas
O músculo iliopsoas é extremamente importante para nossas aulas. Dessa forma, para começar a compreendê-lo revisaremos rapidamente sua anatomia. Mas lembre-se que tenho outro artigo aqui no blog completo sobre o assunto. Ele pode ser dividido em três porções:
1) Ilíaco
O ilíaco é plano e triangular. Está situado na fossa ilíaca, sendo recoberto pelo Psoas. Portanto, sua origem está na fossa ilíaca e na espinha ilíaca ântero-inferior. Seu direcionamento de fibras segue paralelamente ao Psoas maior, ou seja, para baixo e para a frente.
Chegando na altura da articulação coxo femoral ele realiza uma transmutação, dirigindo-se obliquamente para baixo. Além disso, é nessa região que encontramos sua inserção, no trocânter menor e na linha áspera. Suas ações são a flexão do quadril e rotação lateral da coxa.
2) Psoas
O Psoas é uma musculatura volumosa e fusiforme. Localiza-se ao lado da coluna lombar e também na face posterior da cavidade abdominal. Mas o Psoas não é único e possui duas porções principais que também podem ser consideradas como músculos individuais.
A porção maior possui o nome de Psoas maior e sua origem fica nos corpos vertebrais de T12 e L4 e os processos costais de L1 à L4. Dessa forma, seus feixes musculares seguem para baixo, para fora e para frente.
O tendão curva-se na região anterior da articulação coxofemoral e segue para baixo, para fora e para trás. Já sua inserção é no trocanter menor. Assim, suas ações são de flexão e extensão da coluna lombar e flexão e rotação lateral da coxa.
A menor porção da musculatura é chamada de Psoas menor, e geralmente está ausente sem motivos aparentes.
3) Paradoxo Biomecânico do músculo Iliopsoas
A literatura anatômica classifica o Iliopsoas tradicionalmente como um flexor e adutor de quadril potente. Mas quero apresentar algumas questões únicas e diferentes dessa complexa musculatura.
De acordo com Philip J Raschi, o Iliopsoas pode ter uma ação paradoxal. Isso acontece porque existe a inversão da função do músculo Iliopsoas.
Quando realizamos exercícios abdominais com membros inferiores estendidos e elevados, as vértebras são tracionadas para a frente e para baixo. Isso acontece por causa da contração do Psoas. Caso as musculaturas do abdômen estejam fortes o suficiente evitarão a inclinação anterior da pelve. Assim, as vértebras lombares não sofrem uma hiperextensão.
O mesmo acontece em exercícios abdominais com os joelhos flexionados e pés apoiados no solo. Nessa situação o braço de alavanca do músculo fica bastante diminuído. Mas entenderemos melhor suas ações paradoxais através da anatomia nos próximos tópicos.
Compensações do Músculo Iliopsoas
Ao observar o formato em leque e origens distantes do Iliopsoas, percebemos que sua forma tem a função de direcionar as forças do músculo em seu tendão. O quadril é seu ponto fixo, portanto a disposição é importante para diminuir a força de contração da musculatura em sua origem na região lombar.
Vladimir Janda, cadeísta polonês autor da Síndrome Cruzada Inferior, defende que o aumento da lordose pode ser ativado através de uma inclinação anterior da pelve. Isso aconteceria por causa de desequilíbrios musculares com as seguintes características:
- Músculos Abdominais Enfraquecidos
- Glúteo Máximo Fraco
Combinando essas alterações a uma maior tensão nos músculos extensores da lombar e flexores de quadril temos algo chamado de Síndrome Pélvica Cruzada Posterior (SPCP). O nome desse conjunto de alterações foi determinado por Key em 2008.
Na síndrome, os flexores do quadril estão hiperativos, encurtados e com tensão excessiva. Além disso, teremos maior atividade, encurtamento e tensão excessiva dos extensores do quadril.
Quando acontece um apagamento da curvatura lombar, a pelve estará inclinada posteriormente.
Assim, a retificação da coluna lombar gera um padrão muscular em oposição. Portanto, os músculos abdominais e glúteo máximo estarão hiperativados, encurtados e com tensão excessiva. Enfim, encontraremos fraqueza ou hipoativação de extensores da lombar e flexores de quadril.
As alterações da síndrome pélvica cruzada anterior geram desequilíbrios em L4-L5 e L5-S1. Também surgem alterações na região sacroilíaca. Por isso devemos sempre lembrar que ao encontrar uma dor lombar a pelve também deve ser examinada.
Ações do Músculo Iliopsoas
De acordo com Leopold Busquet a ação principal do iliopsoas é realizar a cifose lombar. Na cifose lombar encontramos as vértebras lombares realizando um arco romano. Ao acontecer um aumento de tensão sobre essas vértebras a tensão do iliopsoas estará aumentada.
Um aumento de tensão também faz com que as origens do músculos se aproximem.
Dessa maneira, o comprimento de suas fibras musculares se iguala e a força de contração aumenta. Porque é um flexor do quadril, o músculo iliopsoas faz parte da cadeia muscular de flexão do tronco. O músculo funciona em conjunto com essa cadeia como um cifosante lombar.
Dessa forma, para complementar a combinação mecânica também existem as cadeias musculares cruzadas posteriores. Também não devemos esquecer da função rotatória do músculo iliopsoas.
O músculo grande dorsal também é bastante interessante, agindo de forma oposta. Porque ele é capaz de anular a tração em rotação que o músculo iliopsoas realiza. O padrão muscular conjunto dessas estruturas acontece para potencializar a estabilidade do tronco. É um mecanismo de prevenção de lesões na coluna lombar durante o movimento.
Importância do Músculo Iliopsoas na Marcha
O músculo iliopsoas realiza uma função importante durante a marcha: desacelerar a extensão do quadril.
Sua ação atenua o impacto durante a fase de balanço da marcha. Em contrapartida isso aumenta a tensão da panturrilha no lado homolateral. Os músculos da panturrilha reduzem a dorsiflexão do tornozelo através desse aumento de tensão.
Quando o iliopsoas está tenso, não permite uma extensão efetiva do quadril. Por isso as musculaturas da panturrilha ficam encurtadas. Isso altera a fase de apoio da marcha e o contato do pé ao solo.
Por ter um iliopsoas tenso durante a marcha também veremos uma diminuição da dissociação das cinturas.
O tronco adquire uma rotação menor para o lado oposto com tensões que alimentam a cadeia cruzada de flexão do tronco do lado em que a rotação gerada na dissociação das cintura está limitada. Na marcha, o iliopsoas possui a função de diminuir a rotação interna do fêmur na fase de apoio.
Relação do Músculo Iliopsoas com o Tronco
O músculo iliopsoas possui uma clara conexão com o tronco. Podemos percebê-la facilmente ao analisarmos suas origens.
O músculo tem pilares que saem de T12 até L4. Como seu torque de força é muito potente, o músculo consegue estender a coluna. Suas ações podem gerar padrões disfuncionais e dores lombares.
Também devo lembrar que o iliopsoas com tensão em excesso pode flexionar a coluna lombar. Essa flexão acontece de acordo com a cadeia muscular com a qual ele estiver em solidariedade de contração tensional. O iliopsoas com tensão distal e unilateral também faz uma inclinação da coluna lombar e eleva a asa ilíaca no lado tenso.
Os músculos que atuam em solidariedade do iliopsoas são:
- Ilíacos
- Quadrado Lombar
- Ilíaco
- Obturadores
- Grande Dorsal
- Diafragma
É possível que o músculo iliopsoas seja o desencadeamento de uma escoliose de origem ascendente.
Conclusão
Perceba que mecanicamente o músculo iliopsoas é extremamente interessante.
Ao analisarmos suas tensões e disfunções conseguimos perceber sua influência em diversos problemas comuns. Portanto, através da análise cuidadosa da biomecânica do iliopsoas e seu funcionamento é possível desvendar algumas das causas da dor lombar.
Por ser um mal bastante comum, o profissional do movimento deve estar sempre preparado para trabalhar da maneira mais completa possível.