Sua avaliação de um aluno mostrou que o aluno tinha problemas com mobilidade de coluna. Quero que você responda agora: qual seria sua primeira atitude no tratamento desse paciente?
Guarde sua resposta porque ao longo desse artigo veremos se ela estava correta ou não.
Precisamos tratar de um assunto importante aqui, a mobilidade de coluna! Porque essa é uma característica fundamental da coluna vertebral que muitos alunos simplesmente não têm. Por isso precisamos aprender como trabalhá-la da maneira mais eficiente no Pilates.
Continue lendo para aprender mais sobre as compensações do corpo relacionados à falta de mobilidade e como realizar um bom tratamento do problema.
Importância das Curvaturas Fisiológicas da Coluna
Nossas mães sempre diziam: “Deixa essa coluna reta, coluna curvada não é jeito de manter a postura!”
No entanto, elas tinham um pequeno erro do que realmente é uma coluna com movimentos fisiológicos. Apesar de muita gente ainda acreditar que manter a coluna retilínea seria a melhor postura, a verdade é bem diferente.
A coluna vertebral possui algumas curvaturas fisiológicas que devem ser mantidas para seu bom funcionamento.
As curvaturas começam a se formar quando ainda somos bebês e definem todo nosso movimento. No corpo existem as cifoses, que têm função de proteção, e as lordoses, que têm função de mobilidade.
Por causa de suas funções, sempre encontramos músculos longos e potentes à frente das lordoses. Dessa forma, alguns exemplos são os flexores do pescoço (presente à frente da lordose cervical) e reto abdominal (à frente da lordose lombar).
Já as cifoses sempre possuem músculos chatos e profundos. Um bom exemplo é o serrátil anterior, que realiza a manutenção postural.
As cifoses são naturalmente menos móveis, portanto são pontos fixos no movimento das cadeias musculares lordóticas. No plano sagital encontramos as seguintes curvaturas da coluna vertebral:
- Lordose Cervical
- Cifose Torácica
- Lordose Lombar
A presença das curvaturas fisiológicas é essencial durante os movimentos. O corpo é exposto à força gravitacional descendente e à força solo ascendente. Sem suas curvaturas da coluna, o eixo raquidiano sofreria muito mais com as pressões axiais gerados por essas forças.
Portanto, percebemos que as curvaturas da coluna precisam existir de maneira fisiológica. Qualquer tipo de desvio ou diferenças nessas curvas é considerado um desvio postural, que deve ser tratado.
Tipos Funcionais de Coluna
A coluna pode possuir um excesso de mobilidade nas suas estruturas ou um excesso de estabilidade, mas dependendo da característica predominante ela desenvolve lesões e problemas característicos.
Chamamos as colunas com curvaturas mais apagadas (retificadas) e falta de movimento de tipo funcional estático. Também existem as do tipo funcional dinâmico, que têm suas curvaturas mais acentuadas e móveis.
A coluna do tipo funcional estático possui um equilíbrio bastante prejudicado. Ela pode até aumentar a quantidade de quedas em indivíduos mais propensos a isso, como idosos. Sabendo que as quedas em idosos são uma causa comum de morte nessa população, podemos entender a importância de trabalhar com mobilidade.
Como Tratar Colunas do Tipo Funcional Estático
No início desse texto perguntei como você trabalha quando encontra uma coluna com falta de estabilidade. Apesar de não ter te dado uma informação essencial, o tipo de coluna, já consigo imaginar a resposta.
A maioria do profissionais decide logo começar a trabalhar com mais estabilidade quando vê uma coluna instável. Parece uma decisão completamente lógica, mas no caso das colunas do tipo funcional estático ela está errada.
A falta de estabilidade dessas colunas vem da falta de movimento. Ou seja, trabalhando só com estabilidade você desenvolve resultados insatisfatórios e não consegue prevenir ou tratar lesões e dores.
Quando encontramos esse tipo de coluna, devemos nos preocupar em recuperar os movimentos perdidos em todos os eixos, sentidos e direções. A coluna realiza movimentos articulares em torno dos eixos ântero-posterior, látero-lateral e longitudinal. Também existem movimentos nos planos coronal, sagital e horizontal.
Sabe o que isso quer dizer? Precisamos desenvolver movimentos em todos esses eixos e planos.
Outra informação importante: apesar da coluna ter um movimento bastante amplo, cada vértebra individual possui um mobilidade pequena e limitada. A mobilidade geral da coluna acontece com a soma das mobilidades de cada parte individual.
Quando essa soma gera movimentos abaixo dos graus de normalidade, o corpo tem dificuldade de se equilibrar dentro do polígono de sustentação.
A longo prazo essa falta de equilíbrio é responsável pelo surgimento de dores e perda de funcionalidade do eixo vertebral. Portanto, comece a trabalhar com a melhora do movimento do aluno assim que ele chegar no seu Studio de Pilates.
Cuidados para Trabalhar a Mobilidade de Coluna
Quero afirmar algo aqui que você e seu aluno precisam entender: o movimento não é seu inimigo. Pelo contrário, ele é a solução para todos seus problemas. Não faz sentido querer melhorar uma coluna do tipo funcional estático através da estabilidade e limitar ainda mais seus movimentos.
Apesar de alguns profissionais terem medo de trabalhar mobilidade de coluna, nenhum movimento é lesivo. Só devemos tomar cuidado com alguns deles como a rotação. Não se engane, a rotação também não é lesiva, mas deve ser feita com a devida preparação e cuidado.
Nesse movimento existe a presença de forças de cisalhamento. Essa é uma força gerada pelo deslizamento em rotação da vértebra contra seu disco. Para evitá-lo é preciso realizar o movimento com o afastamento correto das últimas costelas do ilíaco.
Como Usar Mobilidade de Coluna no Pilates
O primeiro passo para começar a desenvolver a mobilidade de coluna na sua aula de Pilates é trabalhar de maneira gradual.
Ok, eu entendo que o aluno chegou todo travado na aula e nem consegue fazer um bom enrolamento de coluna, mas tenha calma. Mesmo que você tenha vontade de realizar manipulações ousadas e liberar essa coluna de vez, isso é imprudente.
O desenvolvimento de mobilidade deve ser gradual e suave. Você precisa da permissão de todo o sistema conjuntivo relacionado à rigidez para recuperar os movimentos dessa coluna. Portanto comece se livrando de tensões que possam impedir o movimento.
O mais importante de tudo é não fazer alongamentos sofridos que gerem dor. Mantenha a soltura dentro dos limites do corpo.
Nas primeiras aulas devemos usar principalmente movimentos que estejam dentro do plano coronário e no eixo ântero-posterior. Sabe o que isso quer dizer? Que as flexões de tronco são essenciais no início desse processo, assim como o enrolamento de tronco.
Seu aluno certamente terá dificuldade nesses movimentos inicialmente. Se quiser dicas para fazer o enrolamento perfeito, confira meu outro artigo sobre o assunto.
No Pilates temos uma grande variedade de movimentos para trabalhar mobilidade de coluna. Sugiro que você aproveite todos eles, dando preferência aos que são mais funcional. Sempre realize os movimentos de enrolamento respeitando a curvatura fundamental do tronco com um C profundo.
Conclusão
Uma coluna do tipo estático exige movimento, mesmo que sua estabilidade esteja perdida.
Na verdade, a falta de estabilidade vem da falta de movimento e sem recuperá-lo o corpo permanece propenso a lesões, dores e até quedas.
Quer realmente ajudar seu aluno a encontrar movimentos fisiológicos da coluna, tratar suas patologias e aliviar dores? Invista no desenvolvimento da mobilidade de coluna vertebral. Aproveite porque o Pilates é a ferramenta ideal para isso!