Kathy Corey é considerada a Mestre dos Mestres. Afinal, ela tem 40 anos de experiência no universo do Pilates e foi a única até hoje a ser treinada por 4 Elders – discípulos diretos de Joseph. Ela mesma relatou, em conferência em junho de 2017, que nem ela ou seus mestres solicitava a contração do abdômen. Isso é bastante diferente do costume brasileiro. Faço eu a menção sobre o Brasil. Também já fui treinada na Europa onde não era solicitada essa rigidez de tronco através da contração máxima do Power House, algo que pode estar relacionado à dor lombar.
Mas por que o destaque sobre a questão de rigidez, mobilidade e estabilidade? Por que colocamos evidência a solicitação da contração do abdômen?
Vamos lá, uma explicação por vez.
Lembremos da pesquisa de Hodges, que nos trouxe grandes contribuições sobre o assunto. Na verdade, não é o abdômen e tão somente ele que garante a melhora na dor lombar ou outro equilíbrio corporal. Como ele nos disse, são vários músculos trabalhando em perfeita orquestra muscular. Portanto, eles nos trazem o equilíbrio entre a rigidez e a mobilidade.
Portanto, devemos desmistificar o grande trabalho de abdominais para tentar fortalecer a lombar e recuperá-la de algum desequilíbrio.
Tratando-se dos tipos de coluna citados acima, eis que nos surge um dilema. Devo tratar usando mais de estabilidade ou mobilidade? Nossa coluna deve ser estável o suficiente para suportar as forças gravitacionais e móvel o suficiente para ser flexível. Se estas curvaturas forem equilibradas, maior energia potencial se produz e menor será o risco de lesões. Equlibrio então nos parece ser a palavra chave.
Em nossas aulas de Pilates devemos primeiramente observar que tipo de coluna tem este nosso aluno. Geralmente um aluno que chega até nos com dor lombar, pode apresentar áreas com rigidez por compensação em relação a dor, isto não é regra.
Portanto devo continuar, ao observar nosso aluno, veremos se a coluna dele é mais flexível, com curvaturas acentuadas (tipo dinamica) ou se é mais estatica, menos móvel (tipo estativa).
Coluna do tipo dinâmica
Na coluna do tipo dinâmica devemos priorizar o trabalho de estabilidade, eu disse, priorizar. Jamais podemos esquecer do equilíbrio, portanto sim, devemos trabalhar também a fim de que esta coluna não perca sua flexibilidade.
Neste caso então poderíamos lançar mão de uma trabalho global onde entraria brilhantemente nosso famoso transverso do abdômen. Lembrando que deveremos lançar mão de vários grupos musculares, uma vez que trabalham juntos no objetivo de estabilização.
Tratando-se de transverso do abdômen, como você solicita esta contração para seu aluno?
- Máxima contração?
- Levar o umbigo nas costas?
- Ao posicionar o seu dedo próximo e adentro da crista ilíaca, pedir para contrair o abdômen saltando seu dedo para cima?
Passe uma borracha em todas essas formas equivocadas.
O transverso do abdômen não esta atrás do umbigo, alias, atrás do umbigo temos a potente aponeurose e não o músculo em si. Quem faz saltar o dedo para fora é a contração dos oblíquos e não do transverso.
Nada de solicitar máxima contração de Transverso, se lembram? Não queremos rigidez, queremos apenas estabilidade, ainda assim posso lembrá-los que o Transverso possui 68% de fibras do tipo I. Ou seja, por composição, sua maioria são fibras de resistência.
Uma contração suave já é capaz de gerar estabilidade.
Aplanar o abdômen, levando-o suavemente para dentro em toda sua faixa abdominal, ativara o Transverso do abdômen.
Coluna do tipo estática
Já na coluna do tipo estática, devemos preconizar o trabalho de mobilidade; devolver função aos músculos e estruturas corpóreas.
Aqui deixo uma dica que acredito ser de grande valia para o trabalho de mobilidade da coluna lombar (devemos analisar e trabalhar todo o restante da coluna também). Na lombar especificamente, podemos mobiliza-la da seguinte forma.
Imagine seu aluno no Cadillac (ou em qualquer outro aparelho ou solo) fazendo o exercício Spine Strech , alinhe-o de acordo com os princípios da postura e distribuição de carga corporal:
- Sentado sob os ísquios
- Sentir se o corpo está pendendo mais para um lado do quadril (de um ísquio) que para o outro e assim achar ferramentas internas sensíveis a se auto reajustar e reequilibrar o peso do corpo para ambos os lados de forma homogênea.
- Sentir e alinhar os ombros, sem que um esteja na frente do outro e próximos a orelha, estamos aqui buscando sempre a simetria do corpo e dando essas informações proprioceptivas ao sistema nervoso Central.
Agora sim; no Spine Strech se vê muitos trabalhos errôneos. Como o próprio nome diz, é um alongamento, mobilização da coluna e não dos isquiotibiais. Portanto não se trata simplesmente de mergulhar a frente e abaixo.
Após acertar o posicionamento inicial, solicitemos que o aluno afaste as costelas das cristas ilíacas, aumentando este espaço. Depois o colocamos a pensar que sob suas costelas existe uma barra imaginária e que ao levar seu tronco superior em flexão, o faça passando por cima desta barra sem que encoste nela.
Podemos colocar de fato uma barra material como fonte proprioceptiva. Assim ele não mergulhará alongando isquiotibiais e estará trabalhando efetivamente a mobilidade da coluna, sobretudo a lombar.
O que isso nos diz sobre Pilates aplicado à dor lombar?
Pilates é feito de detalhes, precisamos estar atento não somente a exames radiológicos ou o foco da dor em si, mas sabermos olhar este corpo como um todo, analisando como esta a qualidade de movimento desse corpo.