Nos casos de lombalgia, é comum encontrar indivíduos com músculos profundos, e portanto, estabilizadores, que realizam a extensão da coluna hiperativos, seja por excesso de rigidez do tronco, PIA aumentada ou disfunção sacro-ilíaca, o que gerará nesse grupamento muscular um efeito paradoxal de relaxamento nessa camada muscular profunda.
Por isso, o primeiro instinto do profissional do movimento é investir em fortalecimento para diminuir a dor e melhorar a funcionalidade desse indivíduo.
Não está errado, mas talvez seja um raciocínio incompleto, considerando que estamos trabalhando com Pilates, e que precisamos primeiro retirar o campo de interferência causador da inatividade desses músculos. Portanto precisamos considerar as melhores maneiras de realizar esse programa de reativação desse grupo muscular, fundamental para nossa biomecânica.
Aprenda nesse artigo mais informações a respeito dos movimentos de flexão e extensão do tronco e sua relação com a dor lombar. Conforme finalizarmos, darei algumas indicações para trabalhar esses movimentos em aula, sem esquecer da mobilização, ganho de flexibilidade da coluna, além de trabalho de controle motor.
Papel da Flexão e Extensão do Tronco na Lombalgia
Vamos voltar a falar de um tema que eu particularmente adoro: dor lombar. É fato que muitos de nossos pacientes sofrem com o problema, por isso é nossa responsabilidade entender o problema e dar o melhor tratamento possível.
Acontece que as musculaturas relacionadas a flexão e extensão do tronco muitas vezes estão desequilibradas em pacientes com lombalgia. Quando as musculaturas extensoras e flexoras estão fracas, tensas por compressão das cadeias de dois pontos de extensão e de flexão ou em desequilíbrio, a estabilidade da coluna lombar torna-se precária.
Mesmo que o paciente ainda não tenha apresentado dor, esse é um indício que ele está próximo de desenvolver o problema. Lembrando sempre, que a dor lombar está ligada a questões mecânicas, mas também a fatores bio-psico-sociais.
Por isso a atividade física continua sendo um dos principais métodos preventivos da dor lombar. Dessa forma, conseguimoscombatê-la e preveni-la através do fortalecimento e ativação correta de diversas estruturas do corpo. Isso inclui os músculos relacionados à flexão e extensão do tronco.
Sabendo disso, posso introduzir o Pilates como o método ideal para esse trabalho. O próprio Joseph Pilates já prezava por movimentos perfeitos e controlados.
É exatamente isso que queremos na flexão e extensão do tronco de nossos pacientes com lombalgia. Ouso dizer que sobretudo os exercícios em extensão são fundamentais, porém esquecidos dentro do método pela cinesiofobia de nossos alunos, e acabamos por sucumbir evitando assim, as extensões de tronco, tão fundamentais para os músculos, como o Psoas, por exemplo.
Os exercícios do Pilates envolvem movimentos importantes do tronco e ajudam a adquirir consciência corporal. Conseguimos utilizá-lo para trabalhar simultaneamente fortalecimento de músculos abdominais, flexores e extensores e também mobilização da coluna.
Como acontece a Flexão e Extensão do Tronco?
Os movimentos realizados pelo tronco – mais especificamente pela coluna lombar – envolvem a ativação sinérgica de diversos músculos. Por isso, para o bem do estudo, dividiremos as musculaturas nessa seção em flexores e extensores de tronco.
Os flexores incluem:
- Reto Abdominal
- Oblíquo Interno
- Oblíquo Externo
- Psoas
Já os extensores são:
- Iterespinais
- Multífideo
- Rotadores do Tronco
- Intertransversários do Tronco
O grupo de músculos extensores da coluna geralmente encontra-se em desequilíbrio funcional perante os flexores. Ao aplicar exercícios na sua aula de Pilates você perceberá que muitos pacientes apresentam dificuldades para realizar exercício com extensão e hiperextensão do tronco.
Outros movimentos
Além dos músculos envolvidos em movimentos do tronco, a flexão e extensão também envolvem movimentos de outras articulações.
Quando o movimento parte da posição de pé, por exemplo, a flexão também recruta flexores do quadril. Na extensão, partindo da mesma posição encontramos um envolvimento de glúteos e isquiotibiais. Sempre buscando um C profundo e perfeito, descrito por Bezieres em seu livro Coordenação Motora, como movimentos fundamentais do tronco.
Em alguns casos encontramos glúteos também inativos. Nesses pacientes o glúteo máximo encontra-se inibido e incapaz de realizar os movimentos de quadril.
Como resultado temos um exagero dos movimentos de isquiotibiais, o que também gera um aumento da lordose lombar. Além disso, pode ser um dos fatores que somados a tantos outros, poderá desenvolver a lombalgia em seu paciente.
Trabalhando Flexão e Extensão de Tronco na Aula de Pilates
Os movimentos de flexão do tronco geralmente estão facilitados pela hipoativacão dos músculos antagonistas desse movimento, ou ainda pela contração excêntrica desses mesmos músculos para manter nosso equilíbrio.
Portanto, o foco costuma ser na recuperação de movimento de extensão do tronco, porém se os extensores estiverem em excentricidade, o problema estará no excesso de tensão dos flexores do tronco. Percebam, não há uma receita pronta, e cada caso deve ser avaliado, precisamente com muita atenção e competência, a fim de que a melhor estratégia de melhora da mobilidade seja adotada.
Precisamos utilizar os exercícios de Pilates para fortalecer musculaturas profundas do tronco, que muitas vezes ficam esquecidas. Só quero lembrar de um detalhe aqui: estamos em busca do equilíbrio.
De nada adianta trabalhar o fortalecimento de um grupo muscular em excesso. Tudo no Pilates preza pelo movimento global e devemos manter isso. O fortalecimento excessivo é, na verdade, um vilão para a coluna. Ele gera rigidez e a rouba do seu movimento fisiológico, que é exatamente o que tentamos recuperar durante o tratamento.
Dessa maneira, os exercícios utilizados numa aula de Pilates precisam equilibrar o fortalecimento de extensores e flexores da coluna.
Outro Detalhe: observe cuidadosamente a mobilidade de toda a coluna vertebral para realizar o exercício. Mesmo que você queira tratar a dor lombar especificamente, não é possível ignorar o restante da estrutura. A coluna atua com movimentos integrados de todas as suas articulações.
Quando existe falta de movimento em qualquer parte da coluna, isso será compensado com excesso de mobilidade em outras partes. Lembra-se que a instabilidade lombar é considerada como uma das causas de dor na região?
Isso pode ser causado porque outra parte da coluna está rígida.
Durante sua avaliação dê atenção a todos os segmentos corporais. Mesmo desvios em quadris e joelhos podem estar envolvidos nas causas da dor e na fraqueza de extensores do tronco. Não queremos sempre perfeição de movimento? É isso que devemos adquirir ao trabalhar com nossos alunos de Pilates.
Conclusão
Sabemos que os movimentos de flexão e extensão do tronco são fisiológicos e essenciais para que um indivíduo tenha bem estar e evite dores na vida cotidiana. Infelizmente, nem sempre esses movimentos estão com seu funcionamento correto.
A falta de movimento é bastante problemática e gera tensões e fraquezas por todo o corpo.
Quando começamos a trabalhar com um aluno sedentário que também apresenta lombalgia, devemos lembrar do movimento de extensão do tronco. Esse movimento está prejudicado por fraquezas musculares que atingem os músculos diretamente relacionados à coluna, e por conseguinte, pelo corpo todo.
O glúteo máximo deve receber atenção especial por estar inibido em muitos casos, mas existem indivíduos que precisam fortalecer adutores, relaxar Psoas, e assim, por diante, o que torna a dor lombar, ainda um tema desconhecido para o mundo cientifico.
O que devemos buscar acima de tudo no tratamento com Pilates é o equilíbrio. Além de fortalecer a coluna e musculaturas extensoras, precisamos de flexibilidade e mobilidade. Isso se aplica a todos seus segmentos, não só à coluna lombar.